Com roteiro de Bob Fisher e Steve Faber (conhecidos pela parceria em Penetras Bons de Bico), o longa We’re the Millers - traduzido no Brasil para Família do Bagulho - é uma comédia road movie razoavelmente previsível que, ainda assim, surpreende.
Na trama, David Clark (Jason Sudeikis), um traficante pequeno, recebe a missão de contrabandear uma carga de marijuana do México até o Colorado, e decide criar uma família de mentira para usar como disfarce. Para tanto, recruta sua vizinha Rose (Jennifer Aniston), uma stripper falida, para fingir ser a esposa, e os “filhos” Kenny (Will Poulter) - um nerd ingênuo e introvertido - e Casey (Emma Roberts) - uma adolescente revoltada que fugiu de casa.
Transitando na fronteira entre a moral conservadora e a transgressão, o filme é uma sátira hilária e despretensiosa dos valores da família tradicional americana
- seguida do esperado final feliz
.
Uma das principais qualidades da obra reside na boa interação e sincronia entre o elenco. Sudeikis, famoso pelo programa de comédia Saturday Night Live, tem seu humor natural e sem afetações como um dos pilares do longa, garantindo um mínimo de plausibilidade às situações inverossímeis em que os personagens são mostrados. Aniston mantém seu padrão de qualidade usual na atuação. Apesar do uso de dublê de corpo nas cenas perigosas em que aparece de lingerie, a atriz mostra estar em ótima forma física - e ser a escolha ideal para o papel.
Merece destaque nesse sentido, também, a atuação de Emma Roberts e sua capacidade de dar dimensões reais ao estereótipo da adolescente problemática; ainda que não dote a personagem de uma profundidade psicológica notável, chega no mínimo a sugerir certa esfericidade.
O grande mérito do longa, contudo, reside no uso dos lugares-comuns na elaboração de piadas que, apesar da temática que por vezes toca as raias do kitsch, funcionam e surpreendem - graças principalmente ao domínio da linguagem de clichês e à boa construção dos punchlines.
O filme permite-se, em geral, considerável liberdade em relação à ditadura do politicamente correto sem cair no erro de tornar o “politicamente incorreto” um escudo para piadas ruins ou repetição irrefletida do óbvio. A obra conta ainda com um ótimo conjunto de referências à cultura pop - dos compositores Willie Nelson e Tom Waits ao vilão de quadrinhos Bane - que, somado à boa fotografia e à trilha sonora bem selecionada, contribuem para uma unidade estética do filme - que, apesar de inserir-se quase por completo em moldes pré-existentes, ainda se mostra capaz de oferecer doses de originalidade a um público mais exigente.