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    Bullying
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Bullying

    A dor como alerta

    por Francisco Russo

    Apesar da palavra bullying ter se popularizado recentemente, o ato em si não é nem um pouco novo. Na verdade ele fez parte, em maior ou menor grau, da vida de todas as pessoas que, em algum momento da infância ou adolescência, tenham passado por gozações ou constrangimentos causados pelos "coleguinhas". Entretanto, o alvo deste documentário não são as brincadeiras inofensivas, mas sim aquelas que perseguem e machucam, no corpo e na alma, podendo causar sequelas inimagináveis até então. Uma delas é revelada logo no impactante depoimento de abertura, quando um pai de semblante apático narra como seu filho cometeu suicídio devido aos problemas enfrentados no colégio.

    Há duas maneiras de se analisar Bullying como filme. A primeira delas leva em conta a opção do diretor Lee Hirsch em usar a dor como alerta, exibindo diversas histórias tristes e trágicas como exemplo do que acontece no cotidiano escolar e do que precisa ser combatido. Para tanto, Hirsch vai longe: mostra flagrantes de agressões físicas em pleno ônibus escolar, o ódio nos olhares quando dois jovens são obrigados a apertar as mãos para resolver um problema recente, depoimentos de uma jovem perseguida apenas por ser homossexual, relatos emocionados de parentes que perderam filhos por causa de bullying... Tudo para emocionar o espectador e tirá-lo da passividade diante do exibido. Neste ponto, o filme funciona muito bem.

    O grande problema, e aí vem a segunda maneira, é que Bullying, o filme, carece de didática sobre o assunto. A opção por apenas exibir situações reais envolvendo bullying, uma atrás da outra, acaba também cansando o espectador, não apenas pela carga emocional que o filme tenta transmitir mas também por um certo exagero, não no alerta em si, mas em sua contínua repetição sem mudar o tom. É neste ponto que alguns depoimentos didáticos, seja de psicólogos, responsáveis pela educação ou a própria polícia, fazem falta à proposta do filme como um todo. Não apenas para completar lacunas importantes deixadas pelas cenas exibidas, mas também para contrastar a narrativa do filme com o que ele traz de melhor, que são justamente os flagrantes obtidos.

    Repleto de boas intenções, Bullying é um filme que possivelmente será exibido nas escolas como um grande alerta a educadores e pais sobre o que pode acontecer com uma criança em ambientes de perseguição e humilhação. Entretanto, é preciso sempre ressaltar que, por mais que certos atos sejam universais, o filme enfoca a realidade americana, que contempla situações bem diferentes das escolas brasileiras graças às diferenças culturais e estruturais. Como alerta é válido, mesmo que haja uma certa apelação para a dor alheia. Já como filme, deixa a desejar pela ausência de uma análise mais profunda do problema como um todo, que possa abranger todos os personagens envolvidos na realidade do bullying.

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