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    HeadHunters
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    HeadHunters

    Malhar o Judas

    por Bruno Carmelo

    Se você acha que conhece tudo sobre a crueldade no mundo corporativo, HeadHunters eleva o tema a um novo patamar. Nesta produção norueguesa, um tipo milionário, poderoso, cínico e arrogante trava uma disputa mortal com outro tipo milionário, poderoso, cínico e arrogante. Pouco importam as características distintivas dos dois, ou as origens da briga, mas para ninguém ter dúvidas de que a discórdia é séria, a história situa ambos em rota de colisão rumo à mesma mulher, ao mesmo emprego e à mesma notoriedade.

    O que se segue é o prazer de pegar um destes dois – nosso protagonista, um tipo voluntariamente desagradável – e destruir sua imagem. Este homem engomado e elegante será coberto de sangue, fezes, leite, cadáveres; ele é mordido por cães, esfaqueado, baleado, envenenado, atropelado. Sem moralismo (e sem moral), o filme oferece ao público o deleite de presenciar o sofrimento de um tipo desprezível, algo não muito diferente do prazer infantil de malhar o Judas sem enxergar qualquer simbolismo ou conotação moral nesta brincadeira.

    Para que tanta artimanha caiba em enxutos 100 minutos de duração, o roteiro não perde muito tempo com contextualização ou aprofundamento dos personagens. Não se preocupe com os diversos buracos que o roteiro deixa em suspenso: eles serão explicados de maneira didática e clara nos dois minutos finais da trama. Pode não ser a técnica de roteiro mais complexa já inventada, mas pelo menos o filme está plenamente ciente do emaranhado narrativo que cria, e da capacidade do público em assimilar todas estas reviravoltas.

    Resta a HeadHunters um longo embate entre os dois homens. A história limita-se em dizer que um dos dois é um perito em rastreamento e militar condecorado, e espera-se que o espectador compreenda porque ele está sempre na cola de nosso protagonista, em todos os momentos, com alguns segundos de atraso apenas. Não é muito verossímil, mas pouco importa. Sem jamais abusar das cenas de violência – este filme carrega mais no suspense do que na agressão explícita – o filme oferece ao espectador o prazer sádico de ter a violência sempre à disposição, como potencial latente. Existe uma elegante promessa de carnificina em cada cena.

    Aliás, "elegante" é a palavra ideal para descrever esta produção impecavelmente filmada e ostensivamente orquestrada. A grande aposta do projeto é a atmosfera de suspense ininterrupta, que insiste em colocar música de ação em cada cena, com um par de violinos e efeitos eletrônicos destilando tensão do início ao fim. A câmera está sempre móvel, deslizando progressivamente de um cômodo ao outro, de um corpo ao outro. Não existe tempo morto nesta obra que busca a imersão total, como se cada cena fosse calculada para manipular da melhor maneira os nervos do público.

    HeadHunters acaba sendo um exemplo de produção "profissional", impecável na construção do clima e na montagem sucinta. A história não quer realmente dizer nada sobre o mundo corporativo ou sobre o capitalismo selvagem. Esta é uma pequena montanha russa, um espetáculo impressionante, tão eficaz quanto vazio. Ele diverte durante toda a duração da obra, mas não fornece nada a mais ao espectador a partir do momento em que ele sai da sala de cinema. Ou seja, no sentido estrito do termo, este é um entretenimento exemplar.

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