Luz de Inverno: Recentes críticas

LUZ DE INVERNO é o filme mais denso, sufocante, amargo e sem esperanças que já tive o prazer, e paradoxalmente, o desprazer, de assistir! É impossível assisti-lo e não pensar que a vida é uma fardo insuportável, que o sofrimento é a sina do ser humano e que a felicidade simplesmente não existe...Suicidas em potencial devem passar longe, pois o resultado final poderá ser trágico.

Dono de uma filmografia praticamente impecável, Bergman conseguiu aproximar o cinema como arte e influenciar cineastas por todo mundo. Woody Allen, por exemplo, nunca escondeu que o admira. Bergman era ateu e em sua filmografia sempre encontramos diversos filmes que falam sobre vida x morte. Desenvolveu o que chamaram a trilogia do silêncio, no qual Luz de Inverno faz parte. Neste filme que, como ele sabia, dificilmente iria agradar a um grande público aborda o silêncio de Deus perante a tantas perguntas. Mesmo que seja um tema difícil para muitos, Bergman realizou uma obra que resiste ao tempo e envelhece bem. Quem embarca nesta obra irá assistir a um filme polêmico, que gera um grande debate sobre a religião (seja qualquer uma) e quem souber apreciá-lo sairá satisfeito.
O filme narra à história de Tomas Ericsson (Gunnar Björnstrand) um pastor que perdeu recentemente a esposa e entre as pessoas que assistem a missa está Märta Lundberg (Ingrid Tulin) amante de Tomas. Ele se encontra doente, em um momento que sua fé está abalada e quando um dos pescadores locais junto com sua esposa vai até eles para uma palavra confortante Tomas não consegue se expressar e não consegue convencer esse pescador sobre suas dúvidas. Esse pescador, Jonas Persson, é vivido por Max Von Sydow.
Desde o início Bergman filma uma igreja vazia e a câmera se afasta cada vez mais do altar da igreja até sair completamente da mesma. Árvores sem folhas são vistas pela janela. É inverno e na Suécia é uma temporada difícil devido ao frio e de falta de sol. A fotografia que Bergman desenvolve complementa os diálogos. A falta de uma luz solar é constante. Esses dois elementos corroboram para com o desenvolvimento da história. O estado de saúde de nosso protagonista está semelhante a sua fé. Deteriorada.
Bergman acaba nos presenteando com um roteiro que mesmo o tempo passando continua atual. O esvaziamento de, por exemplo, fieis na igreja católica é fruto de que? Um guia espiritual que já não tem tanta fé e não consegue nos passar mais sua fé? Ou será que o silêncio de Deus atingi tantos no mundo? A dúvida da fé é grande e ao assistirmos tantas mazelas no mundo às interrogações não são respondidas? Será que as respostas estão aos nossos olhos, mas somos nós que não enxergamos? Em um mundo onde a religião pode amenizar seus temores, mas não consegue, para onde devemos olhar? Bem, são tantas questões levantadas, não só em termos de religião.
Um filme que nos instiga a pensar. Um filme que não consegue ser apenas proveniente de uma época (o filme foi realizado durante a Guerra Fria, a iminência de uma catástrofe nuclear estava em pauta e por isso o fim poderia chegar a qualquer momento). Um filme que levanta questões interessantes para quem gosta de pensar e refletir.

Acabei de assistir e já se tornou um dos meus favoritos de Bergman. É muita coisa para pensar, é muito diálogo inteligente, que filme!