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    Kiriku, os Homens e as Mulheres
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Kiriku, os Homens e as Mulheres

    Relações humanas

    por Francisco Russo

    Nem só de Pixar e DreamWorks vive a animação contemporânea. Por mais que filmes do porte de Divertida Mente e Como Treinar o seu Dragão tenham grande alcance de público, assim como produções de várias outras empresas ligadas aos grandes estúdios de Hollywood, existe uma boa leva de animadores que trabalha à margem deste mainstream, preparando produções reflexivas e, por vezes, bastante ousadas. É o caso do francês Michel Ocelot, que despontou em 1998 com o folclórico Kiriku e a Feiticeira. O personagem fez tanto sucesso (no circuito de arte) que, mais de uma década depois, o diretor retorna ao seu universo em Kiriku, os Homens e as Mulheres.

    Para quem assistiu aos filmes anteriores, é fácil notar os elementos básicos desta trilogia: a presença do avô de Kiriku narrando os feitos do neto em aventuras episódicas; o contraste do diminuto tamanho do herói, cuja altura não alcança à do joelho de um adulto, com as pessoas à sua volta; a necessidade de sempre provar seu valor em detrimento da baixa estatura; a união dos habitantes da aldeia e, ao mesmo tempo, as idiossincrasias de cada um deles; a presença sempre ameaçadora da feiticeira Karabá. Entretanto, acima de tudo a característica maior da série é o lado folclórico envolvendo os costumes de uma aldeia africana, que chama a atenção pelas diferenças em relação ao cotidiano ao qual estamos habituados. Da ausência de roupas, que resulta na naturalidade com a qual todos lidam com a nudez, aos costumes que envolvem crendices e o respeito aos mais velhos, é esta ambientação que dá aos filmes de Kiriku um tom pitoresco cativante.

    Em Kiriku, Os Homens e as Mulheres isto também acontece. Se por um lado a narrativa é constantemente interrompida pela opção em trazer breves histórias envolvendo o personagem-título, cada uma delas durando cerca de 20 minutos, por outro lado estas mesmas histórias abordam temas bastante importantes também na civilização ocidental. O melhor exemplo é o episódio que apresenta o choque dos moradores da aldeia ao conhecer um estrangeiro, com costumes completamente diferentes. O estranhamento e até a agressividade vinda de quem não entende o diferente é uma analogia perfeita ao que acontece no mundo moderno, isto apresentado de forma que os menores possam também compreender tal situação.

    Tecnicamente, este terceiro filme apresenta uma certa evolução em relação aos objetos que surgem em segundo plano, por vezes desenhados através da animação computadorizada. São pequenos detalhes, que no fim das contas não acrescentam tanto ao filme como um todo. Assim como em Kirikou 2 - Os Animais Silvestres, há um bom destaque ao lado cômico representado pelos guardiões de Karabá, especialmente o que fica sempre no teto de sua cabana. E, como já é tradicional na série, cada aventura termina com todos da aldeia dançando, ao som de músicas cantaroladas sempre relacionadas ao tema central do episódio em questão.

    Mais do que representar um outro estilo de animação, bem diferente do viés comercial que costuma ocupar boa parte do circuito, Kiriku, Os Homens e as Mulheres é um longa-metragem que ressalta o quanto as relações humanas são universais, independente da questão cultural, ao mesmo tempo em que desconstrói com simpatia e simplicidade o preconceito inerente aos olhos ocidentais. Bom filme, talvez mais apreciados por adultos do que pelas crianças justamente pelas mensagens subliminares que transmite em relação ao mundo em que vivemos.

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