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    Karen Chora no Ônibus
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Karen Chora no Ônibus

    Mulheres livres

    por Bruno Carmelo

    A primeira cena de Karen Chora no Ônibus apresenta Karen, sozinha, chorando dentro de um ônibus. A cena não poderia ser mais descritiva e literal. Ao mesmo tempo, a imagem esconde informações do espectador: por que ela chora? Para onde está indo? O roteiro fornece alguns dados (ela se separou do marido), mas nunca explica porque ela o fez neste instante preciso. Como esta mulher, dependente financeiramente e emocionalmente do marido, decidiu largar tudo de um dia para o outro? Se ela foi criada pela mãe para ser uma dona de casa submissa, e parecia aceitar essa disposição até agora, o que despertou o ímpeto de partir, o que suscitou a consciência de sua infelicidade?

    Não é através da protagonista que o espectador descobrirá informações suplementares. A atriz Ángela Carrizosa Aparicio faz uma composição confusa da personagem, que em algumas cenas aparece tímida e impotente, depois fala em tom forte e decidido; ora fica calada com medo de qualquer homem à sua frente, ora abre um grande sorriso ao primeiro que passa. É difícil ver força, revolta, tristeza ou angústia em Karen. Esta mulher, presente em 90% das imagens, permanece uma incógnita durante pelo menos metade do filme.

    O diretor Gabriel Rojas Vera se concentra menos no passado (na psicologia da personagem, em suas motivações) do que no presente e no futuro. Karen Chora no Ônibus, como seu título pode sugerir, é um filme de verbos, de fatos, de ações. Isso não significa que a trama é agitada (muito pelo contrário), mas implica um olhar externo à protagonista, sem empatia. Quando Karen conhece a amiga Patricia (María Angélica Sánchez), outra mulher solitária, descobre-se que as pretensões da obra são universalizantes. Karen não possui uma história singular, funcionando como exemplo de tantas outras pessoas na mesma situação.

    A produção é bastante modesta. Nas cenas externas, quando Karen caminha pelas ruas, ou trabalha distribuindo folhetos, o naturalismo da fotografia e da direção contribui adequadamente à abordagem sociológica. No entanto, assim que o diretor coloca seus personagens dentro de bares e restaurantes, a iluminação se torna artificial demais, o ambiente lembra um cenário teatral e a falta de figurantes suficientes torna a construção pouco verossímil. O incômodo é ressaltado pelos enquadramentos meramente funcionais, destinados a incluir todos os personagens num mesmo plano, ou mostrar o quarto de Karen por um único ângulo.

    Limitações à parte, é no desenrolar da narrativa que o filme ganha a sua força. Sem cair no melodrama açucarado ou atribuir grandes tragédias à vida da protagonista, o roteiro consegue torná-la mais segura, dona de seu caminho. A história se transforma em uma bela fábula de emancipação feminina, provando que Karen pode ser feliz e independente, sem qualquer homem ao redor. É uma mensagem corajosa, por fugir ao ideal da redenção pelo amor romântico. Sem recurso ao deus ex machina, o roteiro finalmente busca uma transformação interna, tão singela quanto o próprio filme.

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