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    E Agora, Aonde Vamos?
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    E Agora, Aonde Vamos?

    Tapar o sol com a peneira

    por Bruno Carmelo

    Pode parecer que o grande conflito deste filme encontra-se na questão política entre católicos e muçulmanos, mas a real oposição é feita entre homens e mulheres. Os homens desta história brigam, no caso, por questões religiosas, mas poderia ser por equipes esportivas rivais, cidades natais diferentes ou qualquer outra oposição. A religião é um pretexto para instaurar a seguinte premissa: os homens são seres sexuais e agressivos, e cabe às mulheres acalmar estas feras movidas a testosterona.

    A diretora Nadine Labaki parece acreditar cegamente na distinção essencial entre homens e mulheres, e conduz a primeira metade da sua comédia com a leveza dos "feel good movies", aquelas produções nas quais os personagens vivem riscos mínimos e prazeres máximos. No caso, as mulheres decidem acalmar seus homens em tempos de guerra com diversas estratégias simples: impedindo-os de assistir às notícias na televisão, distraindo-os com a presença de belas mulheres estrangeiras, criando falsos milagres de uma santa.

    Os quiproquós são divertidos, e Labaki tem o mérito de dominar como poucos o ritmo da farsa. Ela alterna entre o gênero musical (a bela cena de abertura), o romance e a comédia pastelão sem sobressaltos, deixando ao seu próprio personagem um papel discreto: Amale, a bela mulher do vilarejo, observa a situação com um coração materno, compreensivo, mas nada heroico (como o próprio filme).

    No entanto, na segunda metade, o drama entra em cena. A diretora quer conferir peso à sua história e torna o confronto real, filmando mortes de crianças inocentes – cometidas por homens e choradas por mulheres. (Um parêntese: seria exagero cobrar uma postura feminista de uma diretora muçulmana praticante, mas a ingenuidade desta guerra dos sexos pode chocar até os menos contestadores).

    Com o melodrama presente, surge um grande problema no filme: ele começa a levar a sério as soluções ingênuas das mulheres. A parcela feminina desta história, que parecia espontânea e alegre no início, começa a se passar por tola rumo à conclusão. Afinal, distrair os homens com a presença de dançarinas seminuas pode ser engraçado quando eles estão apenas se provocando, mas é patético quando o sangue está jorrando pelas ruas. A comédia permite esse tipo de inconsequências, mas o drama não.

    Em entrevista, Nadine Labaki disse que colocou na história aquilo que realmente faria caso estivesse na situação de suas personagens. Ou seja, ela não proporia nenhuma reforma, não criticaria a fonte do conflito. Para as mulheres, basta ganhar tempo, empurrar a guerra com a barriga, impedir a matança por algumas semanas a mais. Mas tudo isso é inútil: quando acabarem suas artimanhas, os homens voltarão a se matar, porque de acordo com a lógica desta produção, a natureza masculina implica este tipo de comportamento. E Agora, Aonde Vamos? diverte muito quando fala de uma violência hipotética, em um mundo inconsequente. Mas quando se cola aos fatos reais, apostando em armadilhas infantis para solucionar os conflitos no Oriente Médio, ele se torna um tanto banal.

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