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    Na Estrada
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Na Estrada

    Raízes

    por Francisco Russo

    O diretor Walter Salles tem por regra mesclar produções brasileiras e internacionais, por considerar que um cineasta precisa, de tempos em tempos, retornar ao seu local de origem para recuperar as forças. Na Estrada é seu projeto estrangeiro, aquele em que precisa compreender a realidade alheia para retratá-la através das câmeras. No caso em questão, foi um trabalho árduo. Salles e equipe percorreram milhares de quilômetros pelo interior dos Estados Unidos, no intuito de compreender o estado de espírito dos personagens principais do livro "Pé na Estrada", de Jack Kerouac. O que a princípio aparenta ser um mero detalhe perfeccionista fica bastante explícito ao assistir o filme. Afinal de contas, o grande mérito de Salles em Na Estrada foi justamente compreender a realidade daqueles jovens que estavam em busca de algo, sem saber direito o quê.

    A história gira em torno de Sal Paradise (Sam Riley , correto). Vindo de família burguesa e tendo perdido o pai há poucos meses, ele conhece e se aproxima de Dean Moriarty (Garrett Hedlund). Logo é apresentado a um mundo onde álcool, drogas e especialmente o sexo são liberados. De cara, Sal fica extasiado. "Os loucos prestam atenção em mim", vibra, ao mesmo tempo em que analisa quem está à sua volta tendo por base sua vida até então. Neste universo onde o mais importante são as experiências vividas ele também conhece Marylou (Kristen Stewart), a jovem esposa de Dean, de apenas 16 anos. Juntos, os três vivem diversas aventuras, na cama e fora dela.

    A maior qualidade de Na Estrada é retratar o momento de vida de seu trio protagonista sem jamais julgá-lo. Trata-se de um filme quase sensorial, já que muito sobre os personagens é apresentado não através de explicações mas pelas experiências vividas e sua reação diante delas. Neste ponto o grande acerto de Salles foi não podar o filme, visando uma censura mais branda que o tornasse mais comercial. Desta forma há sim cenas de nudez, assim como de uso de drogas e de sexo a três e homossexual. Nada gratuito nem explícito, é importante ressaltar, mas necessário para ambientar este universo muito próprio onde reina a liberalidade.

    Outro ponto crucial para o filme é a imersão do elenco neste ambiente. Garrett Hedlund tem a melhor atuação da carreira ao viver um Dean extremamente sedutor, não apenas no sentido da conquista propriamente dita mas também no campo das ideias sobre viver a vida. O mesmo acontece com Kristen Stewart, que surpreende ao fazer de sua Marylou um vulcão permanente de sensualidade. A dança dos dois, completamente soltos, é uma das cenas mais belas e sensuais do filme, mais até do que as várias de nudez parcial da atriz. Mérito, mais uma vez, de Walter Salles, pelo belo trabalho de caracterização feito com a dupla.

    Na Estrada é um belo filme por ter conseguido captar a essência do que representa o livro de Jack Kerouac, no sentido de se arriscar na vida. Não importa se as atitudes são certas ou erradas, mas sim o que elas representam para aquele grupo de pessoas. O filme apenas peca por ser um pouco longo demais, em parte devido ao excesso de cenas soltas que, por outro lado, são necessárias justamente para representar a vida sem rumo definido que o trio protagonista toma a todo instante. Destaque também para a breve participação de Viggo Mortensen e Amy Adams, ambos muito bem.

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    Comentários

    • Elaine Florencio Franco da Ros
      Adorei o filme. Para quem leu On The Road e se encontrou nas páginas da magistral obra de Jack Kerouac, tudo se encaixou dentro das duas horas da película. Aliás, acredito que o trabalho de Salles tenha sido difícil. Colocar todas as histórias dentro de um limite de duas horas não é tarefa para amadores. O filme é brilhante! On the Road é mágico. Kerouac é um profeta! Sigam em frente nesta estrada... Alexandre Avelar
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