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    Segredos da Paixão
    Críticas AdoroCinema
    0,5
    Horrível
    Segredos da Paixão

    Como estragar seu épico

    por Bruno Carmelo

    Sejamos diretos: Encontrarás Dragões: Segredos da Paixão é um filme ruim. Muito, muito ruim. Não ruim do tipo "Faltou apenas um pequeno elemento para ele ser bom", mas ruim onde nada se salva. A produção é tão constrangedora e precária que fica a vontade sincera de ver o filme se assumir como paródia, com dragões literalmente entrando em cena e soltando fogo pelos ares. Mas não, este épico se leva muitíssimo a sério.

    Ah, vale dizer que esta é uma produção enaltecendo a corrente extremista da Igreja católica, a Opus Dei, e financiada (adivinha?) pela própria Opus Dei. Mas por incrível que pareça, os problemas técnicos e narrativos são tão gritantes que ocultam esse imenso problema ético. Caso você esteja se perguntando como é possível errar tão grosseiramente em um gênero repleto de fórmulas – ou seja, com várias referências para copiar e/ou se inspirar -, o diretor Roland Joffé mostra como:

    1) Trilha sonora

    Coloque trilha sonora no seu filme. Não apenas no clímax, não apenas nas cenas de batalha, mas em todo o filme, do primeiro ao último minuto. Seu personagem pode estar lutando, chorando, ou apenas escovando os dentes pela manhã, mas nunca se esqueça de deixar uma orquestra com centenas de violinos, tubas e pianos mostrarem que tudo é importante, grave, sério, intenso. Aqui, até uma ida à latrina pareceria uma demonstração de virilidade do herói. Se o espectador estiver procurando uma distração durante a projeção, experimente contar os minutos de silêncio. Eles devem caber nos dedos de uma mão.

    2) O roteiro e os diálogos

    Seus personagens não podem ser pessoas quaisquer. Eles são todos fortes, trágicos, e por isso dizem frases como "Eu voltaria aqui mesmo se fosse a última coisa que faria em toda a minha vida", ou "Eu sempre te amei, mas agora preciso te matar!". Aliás, eles se comunicam desta maneira. Se estiver pensando como criar diálogos de tamanha inteligência, selecione palavras morais e vagas (amor, paixão, destino, esperança, liberdade etc. etc. etc.), e combine-as como achar melhor. O mesmo vale para o título, que deve soar de preferência como um romance barato de banca de jornal.

    3) Os atores

    Pegue atores jovens e talentosos, que lutam para despontar em Hollywood, mas ainda não conseguiram grandes papéis, como Rodrigo Santoro, Olga Kurylenko e Charlie Cox. Convença-os a atuarem como se este fosse o maior filme de suas vidas, como se estivessem perto de ganhar um Oscar (e também um Golden Globe, um BAFTA etc.). Peça para que gesticulem, gritem, pulem, se contorçam em todos os sentidos. E que não se esqueçam: quanto mais, melhor.

    4) A produção

    Pouco importa se você não tem um grande orçamento. O importante não é ser rico, mas parecer rico. Por isso, se tiver apenas uma grua, use-a em pelo menos 50% das cenas, deslize sua câmera por todos os lados, coloque o máximo de coadjuvantes em cada cena. Não tenha medo do kitsch, do trash, do brega, do cafona: filme a lágrima do personagem escorrendo sobre a imagem da estátua de uma santa, ou seu reflexo em um espelho quebrado. Personagens vistos atrás de grades, para mostrar que não são livres, ou distorcidos por um vidro, para retratar sua complexidade, também valem.

    Para não dizer que Encontrarás Dragões não tem mérito nenhum, o filme tem sim, um grande valor: ele é profundamente memorável. É dificílimo esquecer esta experiência, depois de tê-la visto no cinema, e isso é algo notável em meio a tantas obras completamente esquecíveis. Afinal, não é só pela qualidade que alguns filmes entram na história, mas também pela falta de qualidade. Encontrarás Dragões tem chances de virar o filme cult das próximas gerações, o Plano 9 do Espaço Sideral do começo do século XXI, aquela fita que todos adoram detestar, parodiar, ridicularizar - e que, de tão atacada, acaba se tornando vítima, e conquistando um espaço afetuoso no coração dos cinéfilos. Quem sabe.

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    Comentários

    • Rayana Beitum
      Esse rapaz que fez a crítica conhece a Opus Dei de verdade? Entrou no site pelo menos? Sabe do que se trata? Ou só se baseou pelos livros do Dan Brown (nada contra, é ótimo pra relaxar, mas Opus Dei não tem nada a ver com aquilo la)? Decepcionada. Parece que a pessoa que escreveu tinha picuinha com a Igreja e resolveu só descarregar seu rancor aqui.
    • Guilherme Cyrillo
      Nunca havia lido uma critica tão ruim.
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