A arqueóloga Lara Croft sempre foi um dos maiores ícones do mundo dos games e, desde a sua estreia na mídia em 1996 com o videojogo Tomb Raider, ganhou o coração do público, sendo considerada a “musa dos games” por muitos, enquanto influencia gerações. O sucesso foi tão grande, que a personagem, com suas belas curvas e uma destreza fora do comum, estampou diversas capas de revistas, foi garota-propaganda de inúmeras ações publicitárias e, lógico, ganhou as telonas em 2001. Angelina Jolie, que já atraia os holofotes com prêmios e notório reconhecimento como atriz, aceitou o desafio de adaptar a forte protagonista, o que rendeu ainda mais notoriedade por seu desempenho físico, chegando a ser aclamada como uma das maiores estrelas de filmes de ação. Mesmo com uma produção mediana, o sucesso foi grande, o que rendeu uma sequência que acabou não agradando ao público e se tornou um fracasso de bilheteria. O mesmo acontecia com os videojogos da franquia, que já não traziam mais novidades. Com isso, se fez a necessidade de restabelecer a personagem em um estilo que atraísse mais jogadores e que trouxesse um ar de novidade aos fãs de longa data.
Em 2013, a produtora dos games lançava o divisor de águas da franquia. O videojogo, intitulado “Tomb Raider” (como o original de 1996), reiniciava a história da personagem e mostrava uma Lara Croft mais humanizada, utilizando seus instintos para sobreviver a um ambiente inóspito de uma ilha perdida no Mar do Diabo. O novo Tomb Raider é, então, aclamado pela crítica, estreando em primeiro lugar em diversas lista de vendas no mundo todo. Logo, produtoras de cinema começaram a sondar a possibilidade de realizar uma nova adaptação da franquia. O que realmente foi colocado no papel com o lançamento do segundo videojogo desta nova versão. A história nos cinemas, porém, seria bem diferente da que vimos em 2001.
Tomb Raider – A Origem traz a ganhadora do Oscar Alicia Vikander no papel de uma Lara Croft mais jovem. Filha do excêntrico arqueólogo Richard Croft (Dominic West), que desaparece ainda na adolescência da jovem, a herdeira não possui qualquer propósito para seu futuro e ganha a vida fazendo entregas de bicicleta nas ruas de Londres. Determinada a forjar seu próprio caminho, ela se recusa a tomar as rédeas do império global de seu pai com a mesma convicção com que rejeita a ideia de que ele realmente se foi. Aconselhada a enfrentar os fatos e seguir em frente depois de sete anos sem seu pai, Lara busca resolver o misterioso quebra-cabeças de sua morte, mesmo que nem ela consiga entender a sua motivação. Deixando tudo para trás, ela parte em busca do último destino em que ele foi visto: um lendário túmulo em uma mítica ilha localizada no traiçoeiro Mar do Diabo. Na Ilha de Yamatai, Lara é obrigada a testar seus maiores limites e deverá usar de sua inteligência para sobreviver.
O filme é basicamente uma corrida contra o tempo – com um ritmo bem veloz -, resultando em inúmeras perseguições e acrobacias que desafiam a lei da física. O desenvolvimento da personagem, que começa de maneira certeira, acaba sendo deixado de lado no decorrer do seu enredo e, com isso, temos aqui apenas mais uma aventura de ação descompromissada. Mesmo embaladas com uma trilha sonora formidável e tendo momentos bem empolgantes, algumas cenas de ação sofrem com edições por vezes ruins - o que acaba incomodando de certo modo. O ritmo frenético do filme e os diversos quebra-cabeças nas tumbas, porém, diminuem essa sensação, deixando o espectador curtir o seu próprio momento.
O roteiro segue uma história bem linear e não deixa pontas soltas, mas carece de profundidade. As determinações de Lara são pouco exploradas, limitando-se apenas à procura por seu pai, em uma relação pai-e-filha que pouco funciona. Falta aquela carga dramática para envolver o espectador. O carisma de Vikander é o que realmente salva a produção. A atriz se mostra digna para o papel e traz uma certa inocência que a personagem precisa para que a trama se sustentasse. Ela transmite a dor, o desespero e a confusão momentânea em suas ações. Seu desempenho físico também merece destaque, já que a atriz oferece grande credibilidade em cenas mais exigentes.
Vale mencionar que um dos diálogos mais interessantes do longa é quando Richard menciona o fato de que mitos são baseados na verdade. Essa colocação é fundamental para que o filme trabalhe no realismo de sua história, deixando de apelar para o inexplicável e fantasioso. É um caminho mais trabalhoso, que pode dar errado, mas Uthaug fez direitinho seu trabalho de casa.
Em uma época em que as mulheres finalmente têm ganhado espaço no protagonismo, Tomb Raider – A Origem é mais que bem-vindo. Mesmo com tanto potencial desperdiçado, o filme é divertido, empolgante e mostra uma força feminina necessária no entretenimento. Mas assim como a nova Lara Croft, a nova franquia tem muito o que aprender...
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