Com uma trama bem cadenciada, Fahrenheit 451 se torna um daqueles filmes memoráveis que precisavam ser produzidos. Em um regime totalitário, bombeiros são incumbidos, não de apagar o fogo, mas de provocá-lo para manter os cidadãos (nativos) felizes, seguros e protegidos. Para isso, eles têm de incendiar… livros! A pior ameaça a estabilidade daquela nação. Os livros podem provocar discussões acaloradas, inspirar questionamento e criar a tão temida revolução. Nesse cenário, a manipulação é imposta em nome da felicidade de todo mundo enquanto que são convencidos de que liberdade é uma questão de escolha (e sabemos que não é bem assim).
O filme traz uma perspectiva impactante sobre a importância vital dos livros e do conhecimento e porque toda forma de totalitarismo visa bani-los. Enquanto o governo investe recursos para extinguir os preciosos e raros livros impressos, a resistência se esforça em preservá-los como um legado atemporal. E é então que vemos o protagonista começar a mudar sua percepção das coisas, pensar por si próprio, desafiar o sistema e ter empatia pelos rebeldes. Não é à toa que o protagonista é chamado de terrorista no final do filme. Afinal, pessoas que querem acessar ideias subversivas e divulgá-las não podem ser outra coisa. Qualquer um que ousar trocar a alardeada “felicidade” por uma dose de liberdade será visto como uma ameaça àquele sistema e será eliminado. Em função disso, Fahrenheit 451 se torna um filme extremamente relevante, pois ainda não conseguimos nos livrar totalmente dos fantasmas do totalitarismo (em sua versão atual, esse fantasma busca censurar a internet). Por causa disso, uma das falas do filme se torna, assim como todo o resto, particularmente interessante e apropriada: se sonhar é algo perigoso, então não devemos parar de sonhar. A solução é sonhar mais, muito mais, todos os dias.