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    Visita ou Memórias e Confissões
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Visita ou Memórias e Confissões

    Filme-testamento

    por Francisco Russo

    Visita ou Memórias e Confissões é um filme bem particular e, como tal, é necessário saber um pouco de seu contexto para apreciá-lo. Rodado em 1981, seu diretor Manoel de Oliveira ordenou que ficasse arquivado na Cinemateca de Portugal para que fosse exibido apenas após seu falecimento. Na época, Manoel tinha 73 anos; faleceu 33 anos depois, aos 106. Sua primeira exibição foi no Festival de Cannes de 2015, dentro da mostra Cannes Classics.

    Diante de tal característica, é óbvio que o longa-metragem atrai uma reverência ao diretor e o tanto que representou para o cinema. Entretanto, paradoxalmente, Visita... em momento algum é um filme de auto-exaltação. Pelo contrário, nele é possível conferir um Manoel de Oliveira bastante sincero, onde fala abertamente que estava vendendo a casa para pagar dívidas - "nunca fui um homem de indústria", ele assume - e sua própria esposa alerta que "não se pode esperar o artista do homem", revelando uma consciente (e necessária) separação entre público e íntimo.

    Com apenas 68 minutos de duração, o longa oferece um passeio pela casa onde Manoel viveu por mais de 40 anos, com intervenções do próprio. Nelas, o diretor assume o papel de apresentador de sua própria vida, trazendo detalhes sobre os pais, filhos, o casamento com Maria Isabel e, é claro, sua carreira cinematográfica. Manoel fala ainda do modo como vê as mulheres - "é o símbolo das virtudes, mas também da tentação e do pecado" - e admite a sedução pelo tema da virgindade, explorado em sua quadrilogia dos amores frustrados (O Passado e o Presente, Benilde ou a Virgem-Mãe, Amor de Perdição e Francisca).

    Agradável de ser visto, Visita ou Memórias e Confissões funciona mais como uma curiosidade sobre o diretor, válida a todos que apreciam seus filmes. Por mais que haja também uma história paralela, ficcional, envolvendo um casal que visita a tal casa, o que realmente importa é observar Manoel falando de si mesmo, em um filme que ele próprio assume ser um inusitado testamento cinematográfico.

    Filme visto no 68º Festival de Cannes, em maio de 2015.

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