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    Sherlock Holmes
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Sherlock Holmes

    Um Detetive Humano

    por Francisco Russo

    Sherlock Holmes não é a primeira adaptação do clássico personagem de Arthur Conan Doyle para o cinema. De Basil Rathbone, seu intérprete em 14 filmes, a Michael Caine (Sherlock e Eu), passando ainda por Joaquim de Almeida (O Xangô de Baker Street), diversas foram as versões já feitas. Robert Downey Jr. tem agora sua chance e apresenta um personagem com nuances bem peculiares. Não apenas no sentido de atualizá-lo para o público dos dias atuais, mas principalmente pela composição de pequenos detalhes que explicam bem sua personalidade.

    O detetive extremamente inteligente, de raciocínio rápido e método de dedução infalível está presente. Até porque alterar estas características seria a morte de Holmes, ao menos da forma como ficou conhecido. Aqui o detetive perdeu a fleuma britânica, típica da elite inglesa, e se tornou mais rude - mas nem tanto. Tudo é milimetricamente calculado: se Holmes luta, é por mera diversão ou necessidade. Conduz a batalha pelo simples prazer em realizá-la, em uma espécie de catarse necessária, como fica retratado na luta no ringue. Quando precisa entrar em combate físico em seus casos, prevê os movimentos envolvidos, seus e do adversário, antes de executá-los. Tudo para que não haja margem de erro.

    Personagens como Holmes geralmente são retratados como verdadeiras máquinas, que cumprem a função a eles atribuída sem manifestar qualquer característica que os torne humanos. Downey Jr. inverte este clichê em Sherlock Holmes. É possível entender, através de frases soltas e reações do protagonista, quem é o homem por trás do detetive. É exatamente isto que torna sua interpretação, e o filme, tão interessante.

    A dedicação extrema à dedução lógica tornou Holmes uma pessoa fria, que controla suas emoções ao máximo. Ao longo do filme há apenas duas pessoas que permitem que este lado aflore: Watson (Jude Law) e Irene Adler (Rachel McAdams). Em relação ao fiel parceiro é algo mais sutil, envolvendo um jogo cerebral onde Holmes tenta manipular o colega. Já com Irene, não há como disfarçar: o coração do detetive bate mais forte quando ela está por perto. E, como acontece com todo apaixonado, o cérebro não funciona tão bem em momentos como este. Tendo consciência deste estado e conhecendo-a muito bem, Holmes busca auto proteção ao desconfiar de tudo quando está próximo dela. Mas não tem jeito: mesmo o maior detetive do mundo está sucetível às artimanhas do sexo oposto. Nada mais natural, nada mais humano.

    O relacionamento com Watson exibe também a faceta egoísta do detetive, ao não querer que o amigo se case. Suas características naturais fizeram de Holmes uma pessoa solitária e Watson é o único com quem pode contar, fora do trabalho. É o mais perto de um amigo que possui. Seu intelecto é a maior arma de Holmes e ele o usa, sem pensar duas vezes, em proveito próprio. Eis outra característica humana, que afasta o personagem da aura de perfeição que possui. Ao menos um pouco.

    É claro que as qualidades de Holmes são exageradas, no sentido de torná-lo quase um super-herói. A resolução dos mistérios, por mais complicados que sejam, é quase sempre fácil e rápida para ele. O que de certa forma atrapalha um pouco o filme, por não dar tempo ao espectador para pensar no ocorrido e ao menos tentar decifrar o enigma. Uma situação vista recentemente também com Robert Langdon, em Anjos e Demônios, quando o protagonista descobre o que precisa fazer quase que de imediato, cabendo ao público o mero acompanhar dos eventos sem se envolver com eles. Assim também é Holmes neste filme.

    Outro ponto positivo é a ambientação, trazendo um visual retrô, ao menos em relação aos dias atuais, decorrente da Londres do final do século XIX. A trilha sonora, repleta de influências da música irlandesa, é um achado. Toque típico do diretor Guy Ritchie, que também exibe sua assinatura nas cenas de luta e em momentos sarcásticos ao longo da história.

    Sherlock Holmes é um bom filme, que apresenta importantes mudanças no personagem sem no entanto descaracterizá-lo. É um Holmes mais físico, sem perder o lado cerebral. O roteiro acerta ao apostar no confronto entre raciocínio lógico e crença, mas peca ao tornar a trama demasiado complexa para que os feitos do detetive sejam mais impressionantes. Não precisava. O Holmes de Robert Downey Jr., por si só, já era suficiente.

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